O Brasil, com sua imensa diversidade climática e geográfica, enfrenta uma realidade alarmante: enchentes no Sul, secas prolongadas no Nordeste, deslizamentos no Sudeste e queimadas na Amazônia e no Cerrado.
Apesar disso, o seguro contra desastres naturais ainda é pouco explorado no país.
Este guia analisa por que o seguro contra desastres naturais é cada vez mais relevante no Brasil, quem mais precisa dele, quais são os obstáculos à sua popularização e como ele pode proteger famílias, propriedades e até economias municipais em tempos de crise climática.
A geografia brasileira e a vulnerabilidade aos desastres
O território brasileiro está entre os mais propensos a eventos climáticos extremos na América Latina. Essa vulnerabilidade varia por região:
- Região Sul: marcada por fortes chuvas e enchentes recorrentes, como em Porto Alegre em 2024, que registrou o maior desastre climático da história do estado.
- Sudeste: regiões serranas do Rio de Janeiro, como Petrópolis, frequentemente sofrem com deslizamentos e chuvas torrenciais.
- Nordeste: enfrenta longos períodos de seca e colapsos hídricos, prejudicando milhões de agricultores familiares.
- Centro-Oeste: queimadas no Pantanal batem recordes todos os anos, afetando propriedades rurais, turismo e biodiversidade.
- Norte: a Amazônia sofre tanto com cheias históricas dos rios quanto com incêndios provocados por desmatamento e estiagens.
Essas ameaças climáticas colocam em risco vidas humanas, infraestruturas públicas, lavouras, rebanhos e casas — bens que, na maioria das vezes, não possuem nenhum tipo de cobertura securitária.
O que é um seguro contra desastres naturais no Brasil?
O seguro contra desastres naturais é uma apólice que cobre danos causados por eventos climáticos extremos como:
- Enchentes
- Deslizamentos de terra
- Secas severas
- Ventanias, tempestades de granizo e raios
- Incêndios florestais e urbanos
No Brasil, esse tipo de seguro pode estar embutido em coberturas residenciais, agrícolas, empresariais e de infraestrutura pública.
No entanto, ele ainda não é obrigatório nem amplamente difundido, exceto em setores específicos como o agronegócio.
Seguro rural: o único exemplo consolidado no país
No Brasil, o seguro contra desastres naturais mais conhecido é o seguro rural. Ele cobre lavouras e rebanhos contra prejuízos causados por secas, enchentes, geadas e pragas.
Fatos relevantes:
- Em 2023, o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) do Governo Federal subvencionou parte dos prêmios pagos por agricultores.
- Segundo o Ministério da Agricultura, o PSR apoiou 76 mil apólices em 2023, cobrindo cerca de 6 milhões de hectares.
- Mesmo assim, menos de 15% da área agrícola brasileira conta com algum tipo de seguro climático — muito abaixo da média de países como os EUA (cerca de 90%).
Ou seja, embora o seguro rural seja um bom ponto de partida, ele ainda cobre uma fração ínfima do risco climático nacional.
Por que a adesão ao seguro contra desastres naturais ainda é tão baixa?
Apesar dos riscos evidentes, poucos brasileiros contratam esse tipo de seguro. Os motivos incluem:
1. Falta de cultura securitária
Segundo a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), menos de 20% das residências brasileiras têm seguro habitacional.
E grande parte das apólices exclui desastres naturais mais severos ou os trata como coberturas adicionais.
2. Custo elevado
Em áreas de risco, os prêmios de seguro tendem a ser mais altos, o que desestimula a contratação entre a população de menor renda — justamente a mais vulnerável.
3. Burocracia e desconhecimento
Muitos brasileiros não sabem que esse tipo de cobertura existe ou não entendem como acioná-la.
A linguagem técnica usada pelas seguradoras também dificulta o entendimento.
4. Falta de regulamentação e incentivo governamental
Diferente de países como Japão ou Estados Unidos, o Brasil ainda não possui uma política nacional de seguro para catástrofes, deixando a maior parte da população à mercê de ações emergenciais tardias.
O que diz a legislação brasileira?
O seguro contra desastres naturais não é obrigatório para imóveis residenciais ou comerciais no Brasil, exceto quando envolvem financiamentos com garantia da Caixa Econômica Federal.
Mesmo assim, o contrato padrão cobre apenas danos estruturais — eventos como enchentes e deslizamentos costumam ser excluídos, salvo contratação adicional.
No setor público, a ausência de apólices coletivas leva a prejuízos bilionários.
Municípios atingidos por desastres dependem quase exclusivamente de decretos de calamidade para liberar verbas da Defesa Civil, o que gera repasses lentos e soluções paliativas.
Como o seguro contra desastres naturais poderia beneficiar o Brasil?
Implementar uma política nacional de seguro contra desastres climáticos traria benefícios claros para o país:
- Redução do impacto fiscal de desastres: governos locais deixariam de depender apenas do socorro federal.
- Incentivo à construção segura e urbanização inteligente: apólices poderiam oferecer descontos para construções fora de áreas de risco.
- Resiliência comunitária: famílias e comércios afetados por eventos extremos teriam mais chances de recuperação rápida.
- Estímulo ao desenvolvimento regional sustentável: o seguro poderia ser vinculado a práticas sustentáveis, como reflorestamento ou conservação de encostas.
O que o Brasil pode aprender com outros países?
Japão
Tem um sistema público-privado que oferece seguro compulsório contra terremotos em contratos residenciais.
Estados Unidos
A FEMA (Agência Federal de Gestão de Emergências) subsidia seguros obrigatórios em áreas de risco de inundação por meio do National Flood Insurance Program (NFIP).
Chile
Após o terremoto de 2010, o Chile obrigou grandes obras públicas e infraestruturas a terem apólices contra catástrofes, facilitando a rápida reconstrução.
O Brasil poderia adotar modelos similares, adaptando-os à sua realidade climática e socioeconômica.
Como contratar um seguro contra desastres naturais no Brasil?
Para pessoas físicas ou jurídicas interessadas, o processo envolve:
- Pesquisar seguradoras que oferecem coberturas adicionais para desastres naturais (ex: Porto Seguro, Mapfre, Tokio Marine).
- Solicitar simulações personalizadas, principalmente em áreas de risco geológico ou climático.
- Verificar se há cláusulas de exclusão, especialmente em enchentes, deslizamentos e vendavais.
- Avaliar planos coletivos ou seguros condominiais, que podem oferecer condições melhores.
- Consultar programas públicos de subvenção, como o seguro rural, em caso de propriedades agrícolas.
Onde contratar um seguro contra desastres naturais no Brasil?
Embora o seguro contra desastres naturais ainda não seja amplamente divulgado, ele pode ser contratado por meio de seguradoras que oferecem coberturas adicionais em apólices residenciais, comerciais ou agrícolas. Veja onde começar:
1. Seguradoras tradicionais com cobertura adicional
Diversas seguradoras no Brasil permitem incluir proteção contra desastres naturais nas apólices, mediante pagamento extra ou personalização:
- Porto Seguro
Oferece seguro residencial e empresarial com cobertura contra alagamentos, vendavais, granizo e até impacto de veículos.
www.portoseguro.com.br - Tokio Marine
Permite a inclusão de cobertura para desastres naturais em seguros residenciais, comerciais e rurais.
www.tokiomarine.com.br - Mapfre Seguros
Atua com seguros patrimoniais e residenciais com opção de proteção contra incêndios, inundações e deslizamentos.
www.mapfre.com.br - Bradesco Seguros
Oferece coberturas adicionais para eventos da natureza em apólices residenciais e empresariais.
www.bradescoseguros.com.br
2. Corretoras e plataformas digitais
Se preferir comparar planos e contratar online, plataformas como:
- Minuto Seguros – Permite cotar e contratar seguros residenciais com coberturas adicionais.
www.minutoseguros.com.br - Youse (do grupo Caixa Seguradora) – Plataforma digital com personalização de coberturas.
www.youse.com.br
3. Seguro Rural com apoio governamental
Para produtores rurais, o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) permite contratar com desconto:
- Consulte as seguradoras habilitadas no site do Ministério da Agricultura:
https://www.gov.br/agricultura/
Conclusão
O seguro contra desastres naturais é uma necessidade urgente no Brasil.
Diante da intensificação das mudanças climáticas e da frequência de tragédias como as enchentes no Sul e os deslizamentos no Sudeste, esse tipo de proteção deixa de ser opcional para se tornar um instrumento essencial de resiliência financeira e social.
Mas para que esse seguro se torne acessível e eficaz, o país precisa investir em educação securitária, oferecer subsídios, criar políticas públicas e integrar esforços entre governo, seguradoras e comunidades.
O futuro climático do Brasil exigirá não apenas infraestrutura mais forte, mas também estratégias preventivas como o seguro contra desastres naturais — tanto para proteger vidas quanto para reconstruí-las.